MARY JANE WATSON: DE MISTÉRIO À HEROÍNA

Mundo Gonzo
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Mary Jane Watson: A Supermodelo Que Nasceu de Um Esquecimento e Virou Ícone Pop

No começo ela era só uma silhueta. Um vulto ruivo que pairava pelas bordas dos quadrinhos do Aranha, como um fantasma sexy num mundo de nerds traumatizados. Você via as pernas, o cabelo, talvez uma fala solta. Mas o rosto? Nunca. Era mistério, era lenda. Era o equivalente editorial de uma miragem com batom vermelho.

Stan Lee esqueceu que ela existia. Isso mesmo. Criou, plantou a ideia... e foi viver a vida. Esqueceu completamente da garota que a Tia May insistia em empurrar pro Peter, como quem empacota um destino amoroso num jantar de domingo. Se dependesse dele, Mary Jane teria virado uma piada. Um alívio cômico com cara de tia estranha.

 

John Romita Sr. e Stan Lee
Stan Lee e John Romita Sr em 1976

 Mas aí entrou John Romita Sr., com sua prancheta afiada e a paciência de um cirurgião viciado em glamour. O cara olhou a ausência, viu o vazio criativo e decidiu reescrever a história com curvas, estilo e um sorriso que mais tarde arrancaria o fôlego de gerações de leitores.

Em uma entrevista no livro Comic Creators on Spider-Man, de Tom DeFalco, Romita lembra com clareza do momento: “Stan tinha esquecido da Mary Jane. Quando entrei, ele me deu liberdade para redesenhar os personagens e trazer ela para o jogo. E eu pensei: se é pra mostrar essa garota, ela vai ter que virar a mulher mais deslumbrante do gibi.”

Revelação do rosto de MJ em ASM #42

"Reconhece, gatão… você tirou a sorte grande."

BOOM. Foi como jogar tinha vermelha vibrante nas páginas da Marvel.

MJ vira modelo ASM 256
Ela virou modelo

A carreira de modelo da Mary Jane também não foi planejada. Nada nessa história foi. Foi um gesto improvisado no meio de uma edição onde o mundo estava desabando, Amazing Spider-Man #257, pra ser exato. Todo mundo lembra desse gibi como o momento em que MJ revela que sabia da identidade secreta do Peter. Mas um número antes, no #256, uma bomba silenciosa já tinha explodido: Mary Jane conseguiu seu primeiro trampo como modelo.

MJ sabe da identidade do Peter ASM 257
MJ sabe a identidade do Peter

Foi só uma linha, um detalhe solto no caos do roteiro. Mas como tudo na Marvel dos anos 80, aquilo pegou fogo. E não era pra pegar.

De costas do editor Danny Fingeroth, Tom DeFalco e o artista Ron Frenz. provavelmente em 1985 - foto Eliot R. Brown
De costas o editor Danny Fingeroth, Tom DeFalco e o artista Ron Frenz. provavelmente em 1985 - foto Eliot R. Brown
 

Tom DeFalco, o roteirista, contou anos depois que a ideia era simples. Baseada na Nova York real que ele conhecia, onde garotas desfilavam nas passarelas das fábricas do distrito do vestuário. “Não era glamour. Era sobrevivência,” disse ele. Em tempos onde ser modelo era quase um bico, MJ entrou nessa como uma personagem que precisava de um trabalho, não de um título de capa da Vogue.

Ron Frenz, o artista da época, confirmou. “Ela era modelo de passarela. Só isso. Não era pra virar celebridade reconhecida na rua ou atriz famosa em novela.”

Mas a Marvel não se contém. Um roteirista entra, outro sai, e de repente aquela garota de cabelo de incêndio virou capa de revista, estrela de talk show, símbolo sexual desenhado por McFarlane com expressão de diva de cinema mudo.

MJ por Todd McFarlane
Mary Jane virou supermodelo por ruído editorial. Por tradução equivocada. Por excesso de imaginação. E funcionou.

Essa fase começou a ser publicada no Brasil agora pela Panini Comics, na segunda temporada da coleção A Saga do Homem-Aranha. Uma chance de ouro pra quem quer ver a transformação acontecendo ali, nas entrelinhas. No improviso. No caos bonito da Marvel tentando entender o que tinha nas mãos. E quase perdendo tudo.

Transformaram a ruiva em ícone, símbolo de poder, uma estrela das passarelas que ninguém planejou... mas todo mundo aceitou.

Mary Jane virou supermodelo por acidente. Um bug no sistema, uma falha no roteiro, uma musa nascida do erro e talvez por isso mesmo, absolutamente real.

Ela não foi criada pra ser protagonista. Mas tomou o centro da cena como quem acende um cigarro no meio do apocalipse e diz: "agora é comigo."

E se você acha que a história para por aí... bem-vindo à Marvel em 2024. Mary Jane Watson finalmente ganhou sua própria revista solo. Sim, aquela que era apenas "a namorada\esposa do Aranha", agora veste o uniforme e encara o mundo como uma heroína por mérito próprio.

No título Jackpot, MJ assume uma nova identidade e parte para a ação com poderes, drama, mistério e uma dose de azar invertido. A menina que entrou pelos fundos do roteiro, saiu pelas passarelas e agora entra voando na porrada contra o crime. Como não apostar no vermelho?

MJ como Jackpot

Mary Jane começou como mistério, virou musa e agora é heroína por escolha própria. Não por roteiro, não por romance. Por narrativa. Por força. Por insistência. Por direito.

Este conteúdo foi inspirado na coluna Comic Book Legends Revealed, escrita por Brian Cronin e publicada originalmente no site CBR.com.

 

 

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