Sábado, 28 de setembro. O sol já tinha se escondido e lá estava eu, um jornalista exausto, derrotado pelo peso de um resfriado mal curado, tentando encontrar algum consolo no caos mundano. Abro a porta de casa e, como um milagre, ela está lá: uma caixa. Não qualquer caixa. O tipo de surpresa que te lembra que, apesar de tudo, a vida ainda oferece momentos de puro deleite. Três belezas da Editora Nemo repousavam lá dentro, cada uma mais tentadora que a outra. Eu me sentia como um conspirador prestes a desvendar segredos antigos.
Fabien Toulmé, Adrian Tomine e Jean-Pierre Gibrat. Qual desses magos da narrativa gráfica seria o escolhido para a minha noite? A resposta já estava clara antes mesmo de eu pensar muito: Pontos Fracos, de Tomine, me chamou. O título ecoava algo visceral em mim. Talvez porque, como Ben Tanaka, o personagem principal, eu também sou um especialista em complicar a vida. Ou talvez fosse aquele desejo mórbido de ver alguém se afundar em suas próprias inseguranças, apenas para me sentir mais leve nas minhas.
A história é crua. Ben Tanaka é gerente de um cinema em Oakland, na Costa Oeste dos Estados Unidos. Um japonês-americano vivendo uma eterna negação, transformando tudo ao seu redor em críticas e ironias. Seu relacionamento com Miko Hayashi? Desmoronando como o muro de uma cidade em ruínas, sustentado por paranoias e sua peculiar obsessão por mulheres brancas. Ah, meu amigo, da tensão para uma fuga pela Costa Leste – e sim, estou usando essa metáfora apenas porque me lembro dos Vingadores da Costa Oeste e Leste. Assistir Tanaka seguir por caminhos autodestrutivos é doloroso e, ao mesmo tempo, estranhamente satisfatório. Você vai lendo o gibi e pensa: "Cara, ele merece isso." É engraçado como nos vemos no outro. Rimos das tragédias alheias, mas quando essas tragédias refletem nossas próprias falhas, o riso fica meio seco, inquieto.
Tomine não te dá folga. Seus diálogos são afiados, cortam como bisturi. Ele disseca a vida de Ben com precisão cirúrgica. Cada página é um soco na cara, cada quadro é uma reflexão profunda sobre identidade, raça e aquele vazio existencial que todos tentamos ignorar. Tomine não está aqui para ser gentil, muito menos para resolver o caos. Ele apenas te joga no olho do furacão e diz: "Boa sorte."
Enquanto devorava cada linha, me peguei pensando: "É isso, não é? No final, somos todos mestres em sabotar nossa própria felicidade, em nome de algo que nem conseguimos definir." Como Tanaka, estamos presos em círculos viciosos de autoconsciência, buscando rótulos para nos encaixar em algum canto do mundo – mas sempre ficando de fora, sempre um pouco deslocados.
Terminei a leitura e fechei o livro com uma sensação agridoce. Tomine não é apenas um contador de histórias. Ele é um provocador, um daqueles artistas que te obriga a encarar o que você preferia varrer para debaixo do tapete. Talvez seja por isso que o The New York Times o descreva como "ousado em sua contenção" e o The Village Voice o aplauda como "comovente, hilário e triste". Ele é tudo isso, e muito mais.
E para quem acha que Pontos Fracos ficou só no papel, em 2023 a história ganhou vida nas telas de cinema, com Justin H. Min no papel de Ben Tanaka, direção de Randall Park e roteiro do próprio Tomine. Com o título Caminhos Tortos, você pode assistir ao filme no Max.
E assim, o sábado terminou. Não com respostas, mas com mais perguntas. E com mais camadas de introspecção, porque, no fundo, é assim que Tomine opera. Ele não quer te dar paz – quer te mostrar o espelho. E o que você vai ver lá dentro, bem, isso é problema seu.
Pontos fracospor Adrian Tomine
Editora Nemo
Tradutor: Érico Assis
Capa cartonada com orelhas: 112 páginas